9.5.13

Ó-Ó Profundo

Quando o tio foi atropelado pelo autocarro ficou com as tripas de fora e a cabeça aberta. Tinha também uma barra de cereais no bolso, mas os cães, que se apoderaram dos seus pulmões expostos, não se aperceberam de tal fonte nutritiva. De qualquer forma o que interessa é o cadáver do tio, frio e morto, tão duro como um calhau ou uma pedra. A criatura estava mais falecida que um gato esventrado. Depois das sete vidas.

6.5.13

Actualização

Diário de Vanessa, a menina travessa:

Hoje estou muito excitada, não sei porquê, deve ser gases, peidos, bufas, traques. Ou então sou uma depravada, olha já não sei! A minha melhor amiga disse que tinha uma mancha negra no cu e que podia ser tendão de aquiles e eu disse que ela devia ir estudar o corpo humano. E tomar banho. Mas as pessoas às vezes não me ouvem, fazem de conta. E às vezes não me vêem. Começo a suspeitar que é porque eu sou feia, podre, cheiro mal e não faço a depilação. Será? Hei-de perguntar ao meu namorado fictício. Ele é um querido, está sempre disponível. A minha mãe ainda não o conhece, mas é porque ele é tímido.

4.5.13

O Suicida Zé Nando

Carta de Suicídio de um optimista frontal e egocêntrico:

Olá, estou morto.
Matei-me.
Não quis estar mais vivo e morri.
Parti com a certeza de encontrar um local melhor,
um local de paz e harmonia, um local que me mereça.
Mãe, pai, todas as pessoas que gostam de mim, mundo,
sei que vou fazer falta.

Mas estou morto, habituem-se.

Assinado: Zé Nando.

1.5.13

Consistência

- O indivíduo fazia o seu barulho no grupo, eram alguns indivíduos. E havia um cão, que me assustou: subiu o monte a arfar (o cão, não o monte). A relva estava fria e eu tinha o cu molhado, mas estava feliz. Às vezes estamos molhados e felizes e quentes e felizes e às vezes estamos tristes e não percebemos porquê, mas passa. Ah!, o cão assustou-me porque foi inesperado e eu estava focado nela.

- E mordeu-te?

- Algumas vezes, mas eu ripostei e também lhe mordi e rebolámos na relva do monte e... (- Mordeste o cão??)

- Qual cão qual carapuça, mordi-a a ela! (- E quem é ela?)

- Bem...é a sede de a beber em goles, a ânsia de a guardar no bolso. E a rebeldia de me fazer passar por tolo, quando insisto em fumar os seus olhos doces, que são o mundo e o vento do monte onde começámos a nossa história...